Encontros & Acasos - Capitulo 2

Capitulo 2

Tudo ia muito bem, até começar o mês de junho e para qualquer lugar que se olhasse corações e casais apaixonados, mostrando quanto o amor era lindo e que tudo sempre dava certo no final.

Entrei em um tipo de TPDN (Tensão Pré Dia dos Namorados), um mau humor que nem eu me aguentava. Para completar a minha tristeza, o dia dos namorados caía em um sábado.

Olha a minha situação! Amigos comprometidos ou enrolados estavam ocupados, amigos solteiros estavam à caça ou em deprê em casa. Ou seja, companhia zero. Ficar em casa nem pensar, senão eu quebraria a televisão diante de tanto: eu te amo.

Saí, fui ao shopping tomar um café e ler um bom livro.

Chegando à cafeteria pedi um bolinho, um frapuccino e peguei o meu salvador - O Melhor de Mim - Nicholas Sparks – se eu não poderia curtir o dia dos namorados ao vivo e em cores, vou me acabar em um romance brabo, e como já haviam me contado, sem final feliz. Meu espírito estava de mal com o cupido.

Estava entretida no meu canto, lendo o meu livro, me isolando desse mundo açucarado de dia dos namorados, quando percebi que estava sendo observada. No fundo da cafeteria, um homem muito bonito, de cabelos pretos, bem vestido, lendo Vinho - Manual do Sommelier, tomando um café expresso e água com gás.

Pensei: Que cara chique! Mas deixei pra lá.

Ele continuava a olhar para mim, aquilo já estava me incomodando. Só que eu não levaria a máxima “os incomodados que se mudem” ao pé da letra. Meu dia já estava horrível.

De repente, sinto a mesa ao meu lado ser ocupada. E quem era? O cara do livro sobre vinhos.

Me aprumei na cadeira, nem sei porquê, foi instintivo. Mas uma coisa era certa, ele realmente era lindo e exalava um perfume maravilhoso. Voltei a me concentrar no livro, porém acho que li o mesmo parágrafo umas cinco vezes, até ser interrompida.

- Boa tarde, desculpe atrapalhar, mas você poderia me passar o guardanapo?

Eu muito educada, passei, mas estranhei, já que ele não estava comendo nada. Voltei para o meu livro, no mesmo parágrafo, já ia ler pela sexta vez, quando me interromperam de novo:

- Oi, isso é para você (Uma flor de dobradura com o guardanapo). Feliz dia dos namorados.

- Obrigada. Respondi meio emburrada. E eu acho que ele percebeu.

- Desculpe, falei alguma coisa errada? Não era a minha intenção.

- Não é nada com você! Só que hoje não é o melhor dia do ano.

- Nesse ponto tenho que concordar com você. Prazer meu nome é Arthur.

- Oi, o meu é Lua.

- Sem ser brega ou clichê, o nome é tão lindo quanto a dona.

Não resisti e deixei um leve sorriso aparecer nos meus lábios. Poxa, essa cantada era velha! E eu percebi que ele sorria também. Aí vem ele, puxando papo de novo.

- Se você não está em clima de romance, pelo menos foi o que eu entendi, por que está lendo Nicholas Sparks?

- Porque eu sou masoquista e adoro me torturar. E esse livro tem tudo a ver comigo, nada de final feliz.

- Calma, foi só uma curiosidade.

Ele voltou para o livro dele, pediu mais um café e uma água. Olhou para mim sem graça.

Também voltei a ler o meu, ou tentar pelo menos. Fiquei pensando comigo mesma, tinha errado a mão. Não precisava ser grossa daquele jeito. Ele não tem culpa de ser homem e eu estar abominando todos eles. Mesmo, achando esse tal de Arthur um gato.

- Arthur, desculpa, fui meio grossa com você. Nada a ver o que eu disse. Vamos começar de novo, pode ser?

Nos demos as mãos como forma de cumprimento. O que foi aquilo? Que choque! Quando ele tocou a minha mão parecia que tinha levado um raio ou tivesse enrolado a minha mão em fio desencapado e tomado um superchoque. Quando soltamos as mãos, os dois tiveram a mesma reação estranha: ficar esfregando as próprias mãos uma na outra, como se assim acalmasse a sensação de choque.

Ficamos um tempo em silêncio.  Não aguentei e parti para o interrogatório

- Já que você perguntou sobre o meu livro, agora é a minha vez.

Ele assentiu sorrindo, e que sorriso.

- Você gosta de vinhos. Trabalha como sommelier?

- Não, Lua. Vinhos são como um hobbie, que resolvi começar há pouco tempo. Você gosta de vinho?

- Sim, gosto. Mas você trabalha em quê?

- Bolsa de valores. Sou corretor, muito estresse. Tenho que procurar alguma coisa pra relaxar. E você, faz o quê?

- De trabalho ou para relaxar?

Ele riu, e eu com um sorriso sem graça no rosto e respondi, a conversa estava começando a fluir devagar. Apesar da cantada velha (Que eu achei uma gracinha), não me deu vontade de espantar o Arthur, como eu vinha fazendo com qualquer carinha que tentasse chegar em mim.

- Eu trabalho em um escritório de contabilidade, um tanto estressante também. Mas não tenho um hobbie de fato.

- O que você faz para relaxar? Livros, pelo o que eu estou vendo, é uma opção.

- Eu gosto de pegar um cineminha, teatro, passeios, nada muito papo-cabeça. Somente coisas leves, já chega de pressão.

O papo continuava na maior naturalidade, falávamos sobre gostos e amenidades da vida. Chegamos até a comentar os tipos de café quer eram servidos ali na cafeteria. Isso, ele virado para mim e eu para ele, cada um na sua mesa. O tempo passou, só percebemos que estava tarde, quando o atendente  estava virando as cadeiras para cima das mesas em volta.

- Nossa, não vi o tempo passar.

- Quer que eu te leve em casa, estou de carro?

- Não precisa Arthur, eu também estou de carro.

- A gente podia se encontrar de novo para conversar, o papo estava tão bom? Que tal no próximo sábado, aqui mesmo?

Por Paula Gonçalves